RASTROS DA HISTÓRIA
Texto
publicado no jornal Boto há alguns anos:
Nossa história começa bem longe daqui...
Percorrendo caminhos que mexem com a memória e o
imaginário, observei um grande rastro deixado pelo trânsito intenso de animais.
Eram pegadas que iam e vinham. Parei para ver o que significava aquilo.
Surpresa: deparei-me com tropeiros que cavalgavam rumo ao Sul do Brasil. A
curiosidade tomou conta de mim. Eu queria saber de onde vinham, para onde iam,
quem eram...
Mergulhei nos arquivos silenciosos da história e
descobri que aqueles homens destemidos eram paulistas, que se aventuravam por
estas paragens em incursões exploratórias, no século XVIII. Haviam descoberto
grande quantidade de gado “chimarrão” (vacum, cavalar e muar), trazidos pelos
espanhóis e que se desenvolvera desordenadamente lá pelas bandas do Prata.
Arrebanhar esse “gado de ninguém” estava se transformando num negócio rendoso
para eles!... Faziam isso a partir de 1700, quando o primeiro caminho pelo
litoral, fora desbravado para povoar o Rio Grande. Estrada da Laguna era o nome que deram a esse
difícil acesso palmilhado por tropeiros, bandeirantes, militares, padres jesuítas e tantos quantos
vinham para o Sul garantir a Portugal a posse das terras já invadidas por
espanhóis.
Em 1680, quatro anos antes da fundação de Laguna, S.C.
, os Portugueses ergueram um forte avançado junto ao Rio da Prata,na Colônia do
Sacramento, em ponto estratégico para iniciar a definição dos limites do
Brasil. Nessa época, o Sul do Brasil se estendia até o Rio da Prata. Nenhuma
povoação havia entre esses dois pontos.
De Laguna à Colônia do Sacramento gastavam- se cento
e vinte dias de jornada. A metade do
tempo ficavam resolvendo toda sorte de problemas: esperavam condições favoráveis para a
travessia de rios; construíam jangadas com troncos de árvores para atravessar
os rios mais profundos... Substituíam os eixos
que se incendiavam pelo constante
atrito, das pesadas carretas que transportavam os mantimentos com madeira de
troncos de árvores. Paravam de viajar às quatro ou cinco horas da tarde para se
arrancharem. Levavam vários cavalos para montaria, que iam se alternando para
resistirem à jornada. Acendiam fogueiras para que os animais ferozes não os
atacassem. À noite, ficavam alguns homens em vigília, armados, para evitar que
as onças devorassem suas montarias. As dificuldades eram muitas, mesmo porque não
havia ainda nem roteiro... Iam escolhendo caminhos. Em tempo de seca, no rio
Tramandaí, atravessavam com água pela cintura. As mercadorias das carretas eram
transportadas em jangadas para a outra margem do rio. As carretas vazias, com
os bois atrelados, eram guiadas por um
homem experiente que ia nadando e fustigando os bois, até alcançarem o outro
lado. Em tempo de enchente, as dificuldades se avolumavam com as águas.
Currais, invernadas, rincões e estâncias foram
surgindo ao longo do caminho.
O tempo foi ficando para trás. E, no eco do tropel
produzido pelas patas dos animais, entre restingas, campos e areais foi se delineando a história da Província do
Rio Grande de São Pedro!...
(Leda - escritora - pesquisadora da História do Litoral Norte/Escritora).
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