Misteriosa Lagoa dos Barros




A Lagoa dos Barros localiza-se entre os municípios de Santo Antônio da Patrulha e Osório - RS/Brasil. Reveste-se de encantamentos, mistérios e lendas que atravessaram gerações. Seu nome deve-se a Manoel de Barros Pereira, antigo proprietário de terras às suas margens. 
Mistérios e assombrações mexem com o imaginário das pessoas, como os redemoinhos que brincam em suas águas rodados pelo vento.
Segue um texto literário, inédito até então, e que fala um pouco desta misteriosa lagoa.







MISTERIOSA LAGOA DOS BARROS

                                                     
                                                                              Leda Saraiva Soares

 A lagoa se encrespa. Um ruído estranho e ritmado de tropel ecoa ao longe. Ninfas com cabelos dourados, soltos ao vento... Vestes prateadas esvoaçantes resplandecem na escuridão. Galopam em belos corcéis brancos sobre as águas num fantástico balé etéreo.
Bela e elegante moça vestida de branco. Cabelos longos até os pés. Em noites de lua cheia, encanta homens que sonham com tesouros enterrados à margem da misteriosa Lagoa dos Barros. Guardiã de tesouro? Pede ao escavador de sonhos um pente. O vivente que lhe trouxer este objeto, sem contar nada a ninguém, encontrará um boião cheio de moedas de ouro nas proximidades da lagoa. Caso contrário, estará fadado a morrer no dia seguinte.
Navio, feericamente iluminado, de tempos em tempos, aparece na lagoa, encantando notívagos.
Uma cidade iluminada surge no meio das águas em noites escuras.
Noiva, extremamente bela, assassinada por seu pretendente é jogada na lagoa com pedras atadas ao pescoço. Em determinadas noites, vaga nas águas em busca de paz, deslocando-se de um lado para outro, como a patinar sobre pista de gelo.
Redemoinhos, formados pelo vento, rodopiam e encrespam a lagoa, assustando e causando tragédia a quem se aventura em passeio de barco.
Misteriosa Lagoa dos Barros, plena de lendas e de histórias fantásticas!
Ao sul, a prainha da lagoa bem frequentada no verão, local eleito pelos filhos de Floriano a Alzira para passarem o dia.
-Floriano, não vou com traje de banho. Vou levar um casaco porque costuma ventar na lagoa e eu não quero passar frio.
-É melhor irmos em trajes de passeio, mesmo porque não pretendemos entrar na água.
O acesso à prainha se dá por uma estrada que passa pelos cata-ventos geradores de energia eólica.
-Alzirinha, será que travaram os cata-ventos? Nunca os vi parados dessa maneira. Olha lá, estão estáticos!
-Floriano, parece mentira, mas não sopra a menor brisa.
Calam-se. Ouve-se apenas o ruído dos pneus do carro no asfalto.
-Alzirinha, estou com uma fome danada! Esse cheiro de frango assado que vem aí de trás está mexendo com o meu apetite.
-E eu, meu querido, não queria te dizer. Ma não vejo a hora de comer, com toda a boca, um ovo cozido com uma pitada de sal. Veja Floriano, já estamos chegando. Pelo que nos informaram é ali naquela entrada.
Os filhos do casal e netos já estão ali com toldos, gazebos, cadeiras de praia, Jeti Sky e tudo o mais para passarem o dia. Floriano e Alzira encarregaram-se de levar um frango assado, ovos cozidos, pão, frutas e refrigerantes.
Meio dia. Sol a pino.
-Oi, vô!... Oi vó!... Que bom que vocês chegaram!
Cumprimentam-se. As crianças entram e saem da água, refrescando-se.
Floriano, discretamente, examina o ambiente. Uma faixa pequena de areia forma a praia. A lagoa calma, límpida, agradável para um banho. Mas entrar na lagoa e sentir nos pés aquele lodo que parece sabão deteriorado... Ah! Que saudade da praia de mar...
Um adulto com Jet Sky leva na carona uma criança. Depois busca outra. Os menores brincam na parte mais rasa. Pouca gente naquela hora. O sol vai chegando com toda a sua energia. Seus raios escaldantes atravessam o tecido dos toldos. O calor abrasador é insuportável. Alzira e Floriano sentem-se inadequadamente vestidos. Não podiam imaginar que na prainha da lagoa estivesse fazendo aquele calor causticante.Não corre uma brisa. Alzira arrependida de ter ido, abre o isopor com os quitutes para que tudo se consuma o mais rápido possível. O calor a incomoda. As crianças, com fome, aproximam-se. O piquenique acontece de forma desconfortável. O casal sentado nas cadeiras de praia entreolha-se, comunicando-se por telepatia. “Que programa de índio!”
Para completar, surgem, do nada, minúsculas moscas, quase invisíveis. Não dão trégua, atacando sem parar, tirando o prazer da hora tão sagrada. Floriano e Alzira abanam-se com tampas de embalagens para espantar o calor abrasador e os diminutos insetos. Contêm-se em consideração aos filhos e netos, suportando grande mal-estar. Levantam-se das cadeiras tentando refrescar-se. Procuram com os olhos alguma árvore. Nada. Não suportam mais. Minutos depois, pedem permissão para se retirarem. Os filhos entendem. Pretendem ficar até o entardecer.
Floriano arranca o carro. Liga o ar condicionado.
-Que alívio, meu Deus! Que frescor!...
Alzira, quieta ao lado do marido entrega-se a lendas que envolvem a Lagoa dos Barros. Será que ali onde estávamos há um tesouro enterrado? E porque era dia, a guardiã não pode aparecer? E então, parou o vento, mandou um calor infernal, acompanhado de minúsculas moscas para nos atormentar e correr conosco?
-Que lagoa misteriosa, meu Deus...!

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