Um Sonho Real

O texto que segue é do meu livro Tramandaí Lembranças a Granel:


O lugar era árido. Terreno acidentado. Terra de matizes avermelhados com muitos pedregulhos soltos que dificultavam o acesso. Lá no alto, não muito distante, meio a toda a aridez, avistei uma Igreja, estilo gótico. O mais fantástico de tudo é que não era uma Igreja comum. Era inteiramente de cristal. Algo surpreendente. Algo irreal, alguma coisa de conto de fadas. A transparência cristalina, com tons azulados a refletir as cores do arco-íris, buscava o céu. Uma pesada cortina de veludo vermelho pendia suntuosamente sobre a porta principal.
Encontrava-me sozinha diante daquela visão privilegiada. Nunca vira coisa igual. Impulsionada por uma força irresistível, apressei-me a vencer o aclive para chegar lá.
Os pedregulhos rolavam sob meus pés. Era com dificuldade que avançava. Havia momentos em que precisava apoiar-me com as mãos no chão para não rolar lomba abaixo. Finalmente cheguei. De pé, quedei-me por alguns instantes a contemplar de perto a miragem que se materializava à minha frente.
Aquela Cortina me intrigava. Uma cortina pesada de veludo... Para quê? Lembrava as cortinas de boca de palco de teatro. Um contraste com a transparência cristalina da Igreja. Qual a razão daquela cortina? O que escondia? O que protegia? Por algum tempo fiquei estática, tentando antever o que poderia haver por de trás da cortina. Já visitei muitas Igrejas, mas nunca encontrei alguma que tivesse uma cortina escondendo ou protegendo a porta de entrada e, ainda, que fosse de cristal.
Como entrar? Será que a porta está aberta?
Poderia simplesmente contemplar aquele templo que parecia ser do outro mundo e voltar. Já seria um privilégio ter tido uma visão tão bela. Mas a curiosidade, uma vontade irresistível me levou a suspender a cortina pela barra para espiar o que havia  lá por dentro. Foi então que ocorreu o fato mais surpreendente e extraordinário da minha vida. Uma surpresa incrível! Algo inusitado!
Deparei-me com nossa Senhora. Não! Não era uma imagem. Era Nossa Senhora mesmo, ao vivo e a cores. Resplendente e jorrando graças em quem se aproximasse dela. Eu não tenho dúvida de que era Nossa Senhora das Graças.
Não é possível descrever o que senti. Quando me vi diante dela, toda aquela luz e energia caíram sobre mim como descarga elétrica, anulando os meus defeitos, as minhas faltas, enfim os meus pecados, tornando leve o meu corpo, fardo pesado demais para minha alma.
Ao receber aquela descarga de graças fui arremessada à distância de alguns metros, longe da cortina, meio aos pedregulhos, de tão leve que fiquei.
Era tão bom o que senti!... Sentia-me tão leve!... Pensei: “Vou ver outra vez Nossa Senhora. Levantei, novamente, a pesada cortina. Lá estava Ela na porta de entrada, resplendente como o sol, jorrando graças por toda a sua aura. Mais uma intensa chuva de graças me envolveu. Fiquei tão leve como se tivesse perdido a gravidade e, sem ter controle de direção, fui afastada para mais longe ainda. Refiz-me daquela felicidade suprema em que a alma flutua sem o peso do corpo. Tentei mais uma vez. Consegui chegar até a Igreja de cristal e ergui a cortina e me vi diante de nossa Mãe, a mãe de Jesus, Nossa Senhora de todas as Graças. Outra descarga intensa de graças me envolveu. Desta vez fiquei tão leve que, com impacto das graças, comecei a planar como uma pluma ao sabor do vento. Por mais que quisesse não conseguiria voltar. Foi inebriante o que senti. Meu espírito ficou tão pleno de graças que o peso do corpo desapareceu. Eu fiquei leve... leve... leve... Como se fica em estado de graças. 

Foi tão real o sonho! Mas tão real! Que eu diria:
-Foi um sonho real!
Digo isto porque por três dias tive a sensação de estar flutuando, fora da realidade. E ao contar meu sonho às pessoas, ao descrever o momento em que me via diante de Nossa Senhora, parecia receber outra chuva de graças e me fazia muito bem.
Achei que mais pessoas deveriam compartilhar comigo deste sonho real.



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