O VENTO DE FINADOS MEXE COM LEMBRANÇAS

Venta forte. Muito forte! É novembro. Tempo de finados. Tempo de eleições segundo turno. Tempo de Feira do Livro em Porto Alegre.

Quando eu era criança, para nós, o dia de finados era um dia muito triste. Víamos os  adultos preocupados, prepararem-se para a visita a seus entes queridos. Nessa visitação ia toda a família. Era um compromisso passado de pai para filho. Um dever a ser cumprido. Todo esse clima mexia com o imaginário das crianças. Eu, particularmente, ficava preocupada com a morte. Era difícil  imaginar alguém debaixo da terra sem respirar...  Ficar sozinho lá debaixo da terra... E quando viesse a noite e a chuva?... Imaginava que morrer deveria ser muito doloroso e que tinha a ver com parar de respirar. Então, fazíamos exercício de parar de respirar o maior tempo possível para ver como seria o preâmbulo da passagem...  Não entendíamos o mistério da morte...

Morávamos em Tramandaí, em um sobrado à Rua Fernando Amaral (nome de meu avô), com a rua Fernandes Bastos, onde hoje está a Ferragem Central. Nossa família era muito grande. Meus pais moravam com meus avós e trabalhavam na casa comercial.  A parte térrea  era ocupada por comércio "Casa Amaral" - grande centro comercial na época.O andar superior destinava-se à moradia da família.

O cemitério ficava muito distante do centro.Localizava-se onde hoje está o bairro Agual. Para chegar lá, só de condução. Localizava-se na saída de Tramandaí, na curva, um pouco recuado para dentro.As pessoas levavam velas para acender, coroas para enfeitar os túmulos. Rezavam muito... Havia um movimento muito intenso no cemitério durante todo o dia.  À tardinha, voltávamos para casa com aquele cheiro de vela nas roupas, que lembrava velório, com os pés sujos da areia  e de mistérios misturados com sobrenatural, que entravam pelas sandálias. Era necessário um banho para mandar embora o cheiro de morte.

O tempo passou. O antigo cemitério foi desativado e  os restos mortais  transladados para o novo. Na tumba  comum foram colocados os restos mortais daqueles que já não tinham mais familiares. A cruz de pedra da primeira capela, construída em 1908 e demolida na década de  50, encima essa tumba, tendo sido colocada ali numa cerimônia religiosa, no dia dois de novembro de 1958, em finados.

A modernidade deu lugar à cremação.O valor ainda está alto. Atualmente finados tem servido mais para viagens do que para visitação de mortos. Ninguém mais quer saber de ir a cemitério..

.Até então, eu não havia participado de uma cerimônia de cremação. É muito interessante. É mais suave, porque não se assiste à colocação do esquife na sepultura e o fechamento desta com cimento, encerrando material e definitivamente uma relação física.  É um momento doloroso para quem não desenvolveu sua espiritualidade.

Assisti à cerimônia de cremação de minha mãe. Foi mais confortante. No crematório  havia uma sala moderna, local  agradável, aberto, com bancos dispostos de maneira diferente do convencional. Uma música de fundo, muito suave se espalhava pelo ambiente e confortava os corações dos familiares. O esquife foi colocado numa espécie de altar, num local mais distante, que parecia um palco, com cortinas suspensas. Houve uma celebração com orações e cantos. No final da celebração, começaram a cair pétalas de rosas sobre a urna funerária, meio a uma música muito suave, enquanto as cortinas lentamente começavam a baixar, encobrindo o caixão. A impressão que se tinha, era de que o esquive subia, ascendendo aos céus. Terminada essa cerimônia, os familiares se retiraram. Não se vê nada além disso.É uma cerimônia de entrega, de elevação. Eu, particularmente, sai muito confortada.Depois as cinzas podem ser espalhadas em lugares especiais.

 Recebemos um texto que transcrevo aqui:

"Quando eu não mais existir, procure-me nas flores e serei o perfume daquela que  tocar. Procure-me nas noites frias e serei a brisa nos seus lábios. Procure-me nas estrelas e serei uma delas para dizer boa noite. Procure-me no lago e serei a imagem pra te contemplar. Procure-me na chuva e serei os pingos que cairem no teu rosto. Procure-me em si mesmo e estarei em seus pensamentos. Procure-me no mar e serei as ondas que se unem ao seu encontro." 

Deixo aqui uma homenagem à minha mãe, que faleceu no dia de Natal, 25 de dezembro de 2009, aos 93 anos, cujas cinzas amanhã espalharemos em lugar especial.

Mãe 

Por que Deus permite que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem hora,
Luz que não apaga quando sopra o vento
E a chuva desaba, veludo escondido 
Na pele enrugada, água pura, ar puro
Puro pensamento.
Morrer acontece com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio.
Mãe na sua graça, é eternidade
Por que Deus se lembra
-mistério profundo-
De tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo, baixaria uma lei:
Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre
Junto de seu filho e ele, velho embora,
Com a mãe do lado, será pequenino
Feito um grão de milho.

Carlos Drumond de Andrade




ELEIÇÕES

Quando terminei de escrever este texto, a canditada Dilma tornou-se Presidente do Brasil.Primeira mulher a assumir tal cargo, neste país. Que faça um bom governo.Que Deus a proteja em suas decisões.Parabéns à nova Presidente deste nosso Brasil de dimensões continentais.


FEIRA DO LIVRO EM PORTO ALEGRE.


Você já se programou? Acesse o site da Feira do Livro para ver  a programação. Depois agende-se. Vale a pena.
Paixão Cortes, nosso grande folclorista e escritor, é o Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre.

Neste ano, no verão  que passou, foi Patrono da Feira do livro de Imbé.

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