FELIZ NATAL!

Desejo a todos os meus amigos um Natal de muita paz, muita alegria e saúde. Que o Ano Novo seja pleno de realizações.

Vou colocar aqui dois textos do meu livro Tramandaí  / Lembranças a Granel que conta um pouco do Natal em Tramandaí no meu tempo de criança.




NATAL



N
atal!
É Natal mais uma vez!...
Noite Feliz!... Noite Feliz!...
Bate o sino pequenino, sino de Belém...
Nasceu Jesus !... Nasceu Jesus!...
Aquele era o recanto escolhido para colocar o pinheirinho: hall  do sobrado. Para quem subisse as escadas, via a árvore de Natal logo ao canto esquerdo.
Na década de quarenta, na semana que antecedia o dia de Natal, um caminhão carregado de pinheiros de todos os tamanhos, procedente da Borússia - Osório, circulava pelas ruas de Tramandaí. O nosso pinheiro sempre foi dos grandes. Alcançava o teto.
Uma lata de querosene, com algumas pedras e areia fixavam a árvore de Natal. Um papel crepom verde escondia a lata.
Quando nossas tias buscavam, entre os guardados, as várias caixas empoeiradas, contendo todos os enfeites da árvore de Natal, nossos olhos cintilavam de expectativa.
O bulício das crianças era incrível. Remexiam nas caixas, apesar da advertência dos adultos. De  repente, uma bolinha escapava de nossas mãos inquietas e se espatifava em mil cacos brilhantes que se esparramavam pelo chão. E lá vinha um xingão: “Eu não disse que não era para mexer!...”
Todo ano era preciso buscar mais enfeites na loja, porque sempre se quebravam alguns ao montar e ao desmontar a árvore. Diga - se que todos esses enfeites eram de vidro muito delicado.
As bolas prateadas, muito grandes, já dependuradas nos ramos, refletiam nossos rostos de maneira deformada. Isso nos divertia muito.
Havia uns enfeites em forma de bola com uma reentrância profunda. Era como se houvesse um cone colorido embutido na bola. Gostávamos de olhar esse enfeite... Os sininhos, tão harmoniosos, davam um toque especial à árvore. A ponteira era cuidadosamente colocada na haste mais alta, quase tocando o teto. Todo pinheiro que se prezasse haveria de ter uma ponteira em sua guia.
Todos os enfeites eram cuidadosamente colocados na árvore. Para apresentarem maior mobilidade, faziam-se alças de linha para dependurá-los.
Os tradicionais castiçais de metal, com velas torneadas e coloridas, não podiam faltar. Esses castiçais apresentavam um sistema de grampo, como um clipe para cabelo, que possibilitava a sua fixação nos ramos do pinheiro.
Era a vez dos cordões prateados que interligavam os ramos, caindo graciosamente nos intervalos destes. Por último colocavam-se flocos de algodão para imitar a neve do Natal europeu.
Enfeitada a árvore de Natal, adultos e crianças ficavam por alguns momentos admirando a obra, para ver se tudo estava bem feito e  bonito.
A Segunda operação era a montagem do presépio ao pé do pinheirinho. Nas mãos de alguma criança sempre havia uma ovelhinha. E o lago? Cadê o espelho? E as gramas? E a estradinha de areia? A gruta, como vamos fazê - la?
Nossa Senhora, São José e o Menino Jesus eram colocados, com todo o respeito e devoção, na gruta. Os Reis Magos (para nossos ouvidos eram reis magros), com os presentes vinham chegando. O anjo pairava sobre a gruta.
Nossa família era muito grande. Todo Natal se transformava numa grande festa, apesar de ser o dia de maior movimento no armazém e na loja. No Natal vendia-se de tudo: cortes de tecidos para confecção de roupas e toda sorte de presentes. Não podiam faltar as tradicionais guloseimas: Papai-Noel de cuca de mel, Papai Noel de chocolate confeitado com açúcar, e uma infinidade de docinhos miúdos. Havia, ainda, doces de marzipã, apreciados pelas pessoas de origem alemã, feitos de uma massa de amêndoas com açúcar. Certa vez, provei e não apreciei. Tinha um gosto que não agradava ao nosso paladar, acostumado com o sabor de chocolate.
Quando eu era bem criança, não havia o costume do Papai Noel visitar as casas. Nós fazíamos ninhos como se costuma fazer na Páscoa e o “Papai Noel”, na calada da noite, deixava os presentes ao pé de nossa cama. Só lá por 1945 é que conheci Papai Noel “de verdade” ao vivo e a cores.




O DIA DE NATAL



E
ra uma expectativa muito grande até o dia 24, véspera do dia de Natal, data em que o Papai Noel chegaria com os seus presentes tão esperados.
As pessoas, em sua maioria, deixam para fazer suas compras de Natal na última hora. O mesmo acontecia em Tramandaí. Era um dia de movimento fantástico. A loja e o armazém ficavam apinhados de gente, todos querendo ser atendidos ao mesmo tempo. Parecia até o movimento da “Bolsa de Valores”, claro que em menor escala...O balcão da loja, sem exagero, ficava literalmente tomado por tecidos, uns sobre os outros porque não dava nem tempo de recolocá-los no lugar. Ninguém achava mais tesoura para cortar tecidos... Era o caos! Quando o movimento acalmava, corria-se a pôr tudo em ordem para que possibilitasse dar continuidade ao atendimento. Todos ficavam exaustos. Mas a festa de Natal ainda estava por acontecer...
Dez horas da Noite... Essa era a hora em que a família conseguia se reunir.  As crianças desde cedo estavam arrumadas, numa excitação grande, questionando sobre o Papai Noel: Existe? Não existe? O pinheirinho todo enfeitado era uma grande atração. O presépio era um encanto! O tio Pedro liderava o ensaio das músicas que deveríamos cantar para o Papai Noel: “Já faz tempo que eu pedi, mas o meu Papai Noel não vem...” (...) “A bênção, Papai Noel, eu quero um presente seu. Aquele que lhe pedi, você ainda não me deu...” O canto nos acalmava e os adultos ganhavam tempo...Cada um tinha que fazer alguma coisa para o Papai Noel: cantar, dizer um verso, dançar...
À medida que as horas iam passando, sempre chegava mais um atrasado. Alguém anunciava que o Papai Noel já estava a caminho. Era a hora de acender as velinhas da árvore. Uma de nossas tias, tia “Rola”, tia “Ioia” ou tia Julieta, com um fósforo, acendia cada velinha. As luzes se apagavam. Era um momento mágico! Só o pinheirinho ficava iluminado. Nessa época, não havia, ainda, essas luzes “pisca –pisca” tão usadas atualmente. Entoávamos a música “Noite Feliz”. O coro de vozes ia se intensificando. E o cântico “Noite Feliz” era entoado por todos com grande emoção. Naquele momento, a lembrança de pessoas queridas que partiram desta vida, doía em saudade no peito de alguém. As lágrimas eram inevitáveis. A luz das velinhas realçava os enfeites da árvore que brilhavam intensamente, refletindo-se nos olhos dos presentes. Era um momento de saudade que se misturava à alegria daqueles rostinhos felizes e ingênuos das crianças.
Finalmente, ouvia-se um bater forte da bengala do Papai Noel na madeira da escada que o conduziria até o “hall”. As crianças ficavam nervosas, alvoroçadas. Algumas começavam a chorar com medo do Papai Noel. As maiores, com a presença do velhinho, aquietavam-se.
A festa começava. As crianças faziam suas apresentações. Um adulto auxiliava o Papai Noel lendo os nomes escritos nos papéis dos presentes. O Papai Noel ia chamando, cada um por seu nome: Renato! Marco Antônio! Glaci! Lizette! Leda! Gilberto!  Beti, Clóvis.(...) Depois começava a chamar os adultos: Vovô Fernando! Vovó Bernardina! Mariquinha! Palmarito! Pedro! Rola! Aristides! Julieta! Ioia!”E tantos nomes de pessoas que trabalhavam conosco, tanto no balcão como nos afazeres domésticos:” Santa! Elvira!Benta!”(...) Sem falar dos amigos que sempre estavam presentes nas festas. “Sedinha!” Ah! Essa não poderia faltar. Já fazia parte da família.
Papai Noel, cansado de chamar por tantos nomes, despedia-se para voltar no ano seguinte.


Nenhum comentário:

Postar um comentário