MALHAÇÃO DO JUDAS

Época: Por volta de 1950.
Tradicionalmente, na Semana Santa, Tramandaí se agitava. Muitas famílias participavam dessa atividade. Eu me lembro de ter ajudado a fazer um “Judas” com os meus irmãos, liderados por nosso tio Pedro. Fizemos um boneco do tamanho natural de um homem, representando o Judas Iscariotes.

Pegamos uma camisa e uma calça masculinas, demos um nó nos punhos e na boca de cada perna da calça. Fizemos um enchimento com palha que servia para proteger as mercadorias de barro que chegavam ao nosso armazém. A camisa era costurada às calças na altura da cintura. Em pouco tempo o “Judas” tomava corpo. A cabeça era feita separadamente. Para firmá - la ao corpo, colocava-se um pedaço de cabo de vassoura. Para fazer os olhos, as sobrancelhas e o nariz, usávamos carvão. Pintávamos a boca do “Judas” com batom.

Um paletó velho, uma gravata e um chapéu de feltro deixava o traidor pronto.

Era um alvoroço muito grande!...Passávamos a tarde fazendo o tal  “Judas”...

Muitas famílias, conta a Eloá de Oliveira Santos, antiga moradora de Tramandaí, colocavam seus “Judas” sentados de pernas cruzadas ou de pé, nas áreas de suas casas para prococar a gurizada.

Nesse dia, a molecada ficava algariada, procurando Judas por toda parte. A função deles era roubar os Judas para queimá-los no Sábado de Aleluia, na frente da Igreja. A disputa entre eles era muito grande. Ao roubarem um “Judas”, saiam correndo o mais que pudessem, arrastando-o em disparada, porque cada moleque queria o “Judas” para si. Nessa disputa acabavam despedaçando o “Judas” pelo caminho.

Vovô Fernando sempre gostou de atiçar a molecada. Divertia - se com isso.

Feito o nosso “Judas”, ao anoitecer do sábado de aleluia, vovô era o primeiro a levá - lo para a sacada de nosso sobrado que dava de frente para a Av. Fernandes Bastos. Ora, o boneco longe do alcance dos moleques, excitava-os demais. O vovô pegava o “Judas”, sacudia-o como se fosse jogá - lo, desafiando a gurizada que se acotovelava numa disputa infernal, lá embaixo, preparando-se para aparar o “Judas” que a qualquer momento se despencaria da sacada. Acostumados com essa tradicional brincadeira, vinham munidos de cordas para laçá-lo. Depois de tantas tentativas conseguiam laçar o “Judas” pela cabeça. Vovô jogava o “Judas” sacada abaixo. Era uma loucura! Atiravam-se sobre o boneco, numa disputa atroz. Vovô, mais moleque que os moleques, ficava rindo e vibrando com a brincadeira da rapaziada.Depois o “Judas seria Queimado na frente da Igreja, no sábado de Aleleuia.
À “queima de Judas” nunca assisti.

Texto do meu livro "Tramandaí Lembranças a Granel, p.64.

Feliz Páscoa a todos. Jesus Ressuscitou! Aleluia!

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