A Rua Cruz Alta, em Imbé, até então calma, é cortada por repetidos gritos estridentes. Corro até a frente da casa, buscando localizar a ave em desespero. Para minha surpresa, no topo do poste de iluminação pública, no outro lado da rua, está um gavião pousado, meio arrepiado, em posição defensiva, acuado por sete pássaros de diferentes espécies entrincheirados no fio de luz, paralelo ao gavião. São pássaros pequenos: Bem - te - vis, Andorinhas, Beija - flores e mais alguma espécie que não consegui identificar. Interessante que o número sete representa o infinito. Talvez isso multiplique a coragem e a força daquelas pequenas aves. Duas Pombinhas-rola, como um casal de namorados, bem juntinhas, estão de costas para o gavião, alheias a tudo.
Na foto ao lado, momento em que o gavião sofre ataque de um Beija-flor.
De repente, um Bem - te - vi alça vôo, em alta velocidade, como se fosse um avião-caça. Dá um rasante e grita, quase atingindo a cabeça do gavião. Nessa hora, o gavião se encolhe e também emite um grito estridente. O Bem - te - vi pousa no telhado da casa e canta: “Bem - te - vi!” Outro Bem - te - vi se encoraja e faz a mesma investida, repetindo o mesmo comportamento. O gavião se defende, mas não arreda garra de sua posição. Tem um olho metalizado na trincheira passarinhesca e outro, como se fosse um periscópio, nos ninhos que circundam o poste, nas copas das árvores.
Um Beija - flor, extremamente corajoso e atrevido, desafia o gavião, pousando a um metro e meio deste. Outros Beija - flores pousados no fio, entrincheirados para ataque, investem em revoada e circundam “ameaçadoramente” o monstro, perigo iminente para sua prole. O Gavião só sabe gritar. O grito é a sua defesa, porque a sua coragem começa a se derreter com o sol, escorrendo poste abaixo. As pombinhas não se mexem e nem percebem que uma batalha se trava a seu redor. Talvez, por essa razão, a Pomba represente a PAZ.
As investidas, os constantes ataques estendem-se por mais de quinze minutos. Os pequenos pássaros não dão trégua ao gavião. Este só grita, arrepia-se e se encolhe às investidas.
Aproxima-se o meio dia. O sol torna-se cada vez mais escaldante. Os miolos do gavião a essas alturas já estão a ferver e seu almoço não acontece. O pássaro faminto não resiste a tanta pressão. Derrotado, resolve alçar vôo. Nem sabe o que o espera... A trincheira de pequenos pássaros como aviões da segunda Guerra Mundial, sai em revoada, investindo contra o gavião que mais parece um Boeing. Suas enormes asas redobram seu tamanho. É um espetáculo indescritível! A proporção dos pássaros em relação ao gavião chega a ser paradoxal. A perseguição ferrenha, com investidas rasantes sobre o gavião, chama a atenção dos moradores da Cruz Alta. A minha vizinha largou o livro que estava lendo para acompanhar a cena que chegava a ser hilariante não fosse o desespero das pequenas aves com relação à segurança de seus filhotes. O combate é fotografado. Mais um vizinho se achega e se inteira sobre o que está acontecendo. O gavião se vê desesperado e pousa por algum tempo em algum lugar fora do alcance de nossos olhos. Depois, voa e novamente se repete o ataque. O gavião pousa em outro poste, agora mais perto de nossa casa. Os outros pássaros posicionam-se em trincheira à sua frente e não lhe dão trégua. Começa tudo novamente.
O tempo vai passando. São 14 horas. Desisto de acompanhar a batalha e me recolho aos meus afazeres, mas fico curiosa para saber qual será o seu desfecho.
O grito do gavião se faz ouvir mais distante.As horas se arrastam com o calor insuportável... O sol escaldante dá lugar ao crepúsculo.Os gritos estridentes cessam.
Outro dia de verão alvorece com uma harmoniosa sinfonia de passarinhos livres da presença ameaçadora do gavião que, na verdade, só queria almoçar...
Obs.: Se você der um zoom perceberá melhor o beija-flor.
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