O "BUG" DO ESPELHO


Feliz Ano Novo aos meus amigos!
Que 2010 seja um ano de harmonia, de saúde e que nunca nos falte coragem de lutar por uma vida melhor, por  um mundo mais solidário.

O texto que segue está no livro "Tramandaí Lembranças  a Granel", pp.91,92.Foi escrito na virada do século XX, novo milênio... Muitas expeculações se fizeram...
O espelho está ao fundo, na foto.


O “BUG” DO ESPELHO


 Meio ao profundo silêncio, um estrondo... Seria uma bomba jogada à nascente das águas lendárias da fonte localizada nas proximidades de Téspias na qual Narciso se enamorou de sua própria imagem? Seduzido por sua beleza, permaneceu ali, contemplando-a até consumir-se. Nasceram de seu corpo raízes e ele se transformou na flor conhecida pelo nome de Narciso.

Seria o “Bug” do Milênio? Sinais tão esperados em fim de século? Sinais dos tempos? Ou simplesmente, como querem alguns, apenas virada de ano? Chegada de uma nova era?

O velho espelho redondo, medindo quase um metro de diâmetro, com moldura antiga e resistente, de cor manteiga, com um tope entalhado na madeira da moldura que indicava a posição certa na parede, não quis assistir à chegada do ano 2000.

Eram 16 horas do dia 29 de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e nove, quando desabou, ficando a parte do espelho voltada para o piso.

Quantas imagens esparramadas pelo chão entre cacos... Risos, trejeitos de adolescentes, de adultos e de crianças, congelados no tempo, desde o final da década de setenta.

Da velha fonte, jorrava, em torrente pela sala de nossa casa, muitas imagens de jovens, amigos de nossos filhos, nossos amigos que sempre nos visitavam, nós mesmos esparramados pelo chão.

O “Orango” foi o primeiro a se precipitar e, com ele vieram tantos: o “Cavalo” (Pedro), o “Felpa” (Vladimir), o “Bino” (Armindo), o “Pinico” ( João), a Daniela, a Jussimeri, o “Goiaba” (Cassiano), o “Nuvem” (Alexandre), o “Anão” ( José), a “Courila) (Jaqueline)...

Depois outra torrente trazia a geração mais nova: a Rafaela, a Lisiane, a Karina, a Raquel, a Denise, a Mirian...

Mais afoitos e fazendo estripulia, saíram dali a Gisele, a Vitória, o Ícaro, o Marcelo, o Pedro, a Mariana, o Mateus, a Marina...

Só a bisa (vó Mariquinha) presenciou o “Bug” do espelho.

Ao chegarmos a casa, voltávamos de Porto Alegre, deparamo-nos com a vó Mariquinha sentada em sua cadeira de balanço e, a seus pés, o velho espelho emborcado. Disse-nos que se despencou fazendo um ruído medonho.Ainda bem que não caiu por cima dela. Antes de erguê-lo, cheguei a pensar que estivesse inteiro. Na hora de desvirá-lo, deparamo-nos conosco: o Noel e eu, saindo por entre os cacos. Lá no fundo, vimos outras pessoas desconhecidas que também se refletiram naquele espelho em outros tempos.

O espelho, qual água nascente da fonte onde Narciso se enamorou de si mesmo, por muitos anos, nos fez companhia, ocupando um lugar de destaque na sala de nossa casa, ou melhor, já fazia aparte da casa quando a adquirimos.

Esse espelho era irresistível, atraindo para si todos os olhares daqueles que chegavam à sala, refletindo o Narciso que cada um traz consigo.

Aquela moldura tão antiga já se integrara ao nosso ambiente familiar e mereceu outro espelho.Hoje moramos em Imbé e o espelho nos acompanhou.

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