POR QUE VIERAM AÇORIANOS PARA O BRASIL?
UM POUCO DE HISTÓRIA
Após o descobrimento do Brasil, por
mais de dois séculos, o Rio Grande do Sul ficou isolado do centro do País
(questões geopolíticas).
Era necessário que se povoasse o Continente do Rio
Grande de São Pedro para garantir a posse das terras. Espanhóis e portugueses
viviam em constantes disputas, consequência do Tratado de Tordesilhas. Os
portugueses mantinham um posto avançado do rio da Prata, defronte Buenos Aires,
onde fundaram a Colônia do Sacramento em 1680, tendo como objetivo fixar nesse
ponto a fronteira do Brasil. De São Paulo até Colônia do Sacramento não havia
um só povoado. Em 1684 fundam Laguna para abastecer a Colônia. Até então, o
acesso se dava por mar.
Em 1703, abre-se o primeiro
caminho pelo litoral: antiga Estrada da Laguna, ora pela praia, ora pelo campo
e por muito tempo foi palmilhado por todos que se aventuravam a estas paragens:
- Frota de João de Magalhães em
1725, para povoar o Rio Grande.
-Padres Jesuítas que vinham
catequizar índios.
-Paulistas e bandeirantes que vinham
atraídos pelas minas de prata no Peru e para aprisionar índios que eram levados
para a lavoura no centro do País.
- Tropeiros que buscavam gado.
-Militares que vinham defender as
fronteiras.
-Casais açorianos que vieram povoar
esta terra.
Em 1737, Silva Paes funda Rio Grande
com o forte militar Jesus, Maria e José para servir de apoio militar, defensivo
à Colônia do Sacramento, constantemente sitiada por forças espanholas.
Em 1742, Silva Paes escreve ao Rei de Portugal
sobre a necessidade da vinda de casais açorianos para trabalhar a terra nestas
paragens. Diga-se que no Rio Grande só havia militares e criadores de gado que
não se fixavam a terra. Deixavam em suas estâncias peões e capatazes. Viviam
com suas famílias em Laguna, São Paulo...
Estâncias, rincões, invernadas iam surgindo
ao longo do caminho trilhado pelos tropeiros.
Assim como Minas Gerais,
as terras do Sul do Brasil começaram a fascinar os paulistas por conduzirem ao
estuário platino e às minas de prata do Peru. Outro fator de atração foi a
descoberta de expressiva quantidade de gado muar,
cavalar e vacum. Tropear gado para o centro do país transformou-se em
rendoso comércio para os tropeiros.
O Brasil transformava-se na Terra
da Promissão para os filhos de Portugal. O ouro atraia no fim do século XVII e
começo do seguinte, toda a gente, acalentados todos na esperança de descobrirem
novos garimpos de Minas Gerais e nas catas de suas montanhas auríferas o
cobiçado metal que seria a fortuna e a realização dos mais belos sonhos humanos[1].
O número de portugueses do
continente, decidido a vir para o Brasil era tão grande que o governo começou a
se preocupar.
A notícia do ouro e
diamantes também chegou ao Arquipélago dos Açores. E um bom número de
embarcações começou a fazer viagens para o Brasil, estabelecendo comércio de
forma direta, sem o conhecimento do governo português, levando também o metal
precioso para as ilhas, o que passou a desagradar ao rei de Portugal. Mas o
Brasil precisava ser povoado. Os espanhóis já estavam avançando sobre o território
brasileiro. A terra era de quem a povoasse. O governo português, para tomar
controle da situação, baixou um edital no arquipélago dos Açores, acenando aos
ilhéus com algumas benesses. O interesse foi grande. Muitos se inscreveram. O
governo Português ao enviar ilhéus para o Brasil estaria resolvendo dois
grandes problemas:
2- Superlotação
das Ilhas dos Açores e falta de terras.
Os açorianos, por natureza, eram
dotados de forte espírito de família, hospitaleiros, altivos, religiosos,
tolerantes, valorosos, sem propensão ao crime. Amavam a liberdade e a
independência. Eram disciplinados, obedientes e conservadores dos costumes
domésticos e sociais.
Vejamos o que escreve
Fernandes Bastos sobre a portaria que cria a Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição do Arroio (Osório):
Transcrição ipisis litteris:
(...) O Governador José Marcelino de
Figueiredo [R.G.S.] consegue que o Vice-Rei do Brasil mande fundar uma povoação
com o título de Nossa-Senhora-da-Conceição-do-Arroio, [ Osório] entre as Freguesias de
Santo-Antonio-da-Guarda-Velha [Santo Antônio da Patrulha] e a de
S.Luiz-do-Norte [Mostardas] para assentar sessenta casais açorianos.
Para isso expede o Bispo do Rio-de-Janeiro, Dom Frei Antônio do
Desterro a necessária portaria, que tem a data de 18 de janeiro de 1773. [2]
Transcrição ipsis litteris da portaria expedida pelo Bispo D. Antônio
do Desterro:
Dom Frei Antônio do
Desterro, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do Rio de Janeiro e
do Conselho de sua Magestade [sic] Fidelíssima. Porquanto ilustríssimo e
Excellentissimo Senhor Marquez Vice-Rey d’este Estado manda fundar uma nova
povoação de moradores com o titulo de N.S.-da-Conceição-do-Arroio no lugar que
fica entre a Freguesia de Santo-Antonio-da-Velha-Guarda e outra nova povoação
que manda tão bem fundar com o titulo de São-Luiz-do-Norte, na Província do
Rio-Grande,deste nosso Bispado:(...)
Texto transcrito do meu livro Tramandaí/Imbé, 100 anos de História pp.191,192,193.
Nenhum comentário:
Postar um comentário