Feira do Livro em Caspernoste.


Leda Saraiva Soares

Esticado, imóvel na cama. Silêncio total. Olhos fixos nas frestas da veneziana, Floriano percebe a claridade do dia a invadir o quarto. Levanta-se, pé por pé, para não acordar Alzira.  Veste-se e sai a caminhar. Não avisa ninguém. Encontra o zelador do prédio próximo ao elevador.  Bom dia, João! Tudo bem? Tudo bem, Dr. Floriano.
Caminha sem pressa em direção à praia. A rua está deserta. Chega a pensar no perigo de caminhar sozinho... Não. Quem é que vai querer assaltar um velho? Nesse dia sente-se animado.
O sol deixa a paisagem mais bela. Os pássaros fazem a festa do alvorecer. Os Mimos de Venus (hibiscos) o saúdam num festival de cores. De vez em quando um cheiro de café  passado mexe com Floriano.
Chega à praia. No calçadão não se vê uma viva alma. Nesse dia o mar está verde, translúcido. Isso é incomum. As ondas quebram delicadamente, espraiando-se com uma borda branca de espuma a beijar os pés de Floriano. A temperatura da água é a mesma da pele. Chega a ser um carinho. Floriano aspira e sente aquele ar de maresia tão puro, tão agradável. Queda-se a olhar o vai-e-vem das ondas. Sente a grandiosidade do mar.
Uma força estranha o faz flutuar. Entra em êxtase. Quando se dá conta está em outro lugar. Que estranho!... Que lugar será este? Ali não precisa caminhar, desliza. As pessoas que vê ao longe, vestem-se diferente, tudo parece luminoso, etéreo. Vê-se com uma túnica translúcida e resplendente. Uma linda moça de uma suavidade irreal o acompanha. Saem a caminhar e Floriano encanta-se com tudo o que vê. É uma cidade diferente. Não há pobreza, violência, dor, diferenças, angústia... Tudo se reveste de cores delicadas, luminosas.
Olha ao longe. Uma luz dourada quase o ofusca. Parece uma pessoa esguia, muito elegante, vestida de ouro. As pedras preciosas de suas vestes faíscam e irradiam raios como se fosse raio lazer em grandes shows. Aproxima-se mais e a reconhece. É Olívia!
-O que fazes aqui, criatura?
-Ah! Que bom, Floriano, também vens lançar teu livro na Feira do Livro de Caspernoste?  Dirigindo-se à moça que o acompanha diz: Podes deixar, Ísis. Eu acompanho Floriano até a Feira.
- Floriano, este lugar é maravilhoso. É o céu. Quem chega aqui, não quer mais ir embora. Vamos nos apressar que já estamos atrasados. Ainda bem que aqui podemos voar. Acho que o Zica, a Luna, a Daiane, o Zeca, o Pedro Paulo, a Aurora a Catarina, o Márcio e todo o pessoal já estão lá. Amanhã vais conhecer melhor esta cidade de Caspernoste que só tem encantos e mistérios.

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